Histórico
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FELIPE DOS SANTOS

Cada época sonha com a seguinte e ao mesmo tempo faz uma leitura do seu passado e não foi diferente na história da sedição de 1720. Na segunda metade do século 19, conforme Laura de Mello e Souza: "Cabia encontrar um herói: era natural que este fosse Felipe dos Santos, dado o suplício horrível que o governador Assumar lhe infligiu sem julgamento. Cabia ainda estabelecer uma relação entre 1720 e 1789: dois levantes, dois supliciados, uma linha progressiva de rebeldia e consciência ante à opressão metropolitana. Se Tiradentes era o mártir da Independência, Filipe dos Santos, na mesma época, foi adquirindo os contornos do protomártir."

Sobre a participação de Felipe dos Santos no motim, o historiador Alexandre Torres Fonseca aponta: “O fato de Felipe dos Santos ter atuado tão às claras durante todo o movimento pode ter sido em virtude da confiança que tinha no poder do mestre-de-campo Pascoal da Silva Guimarães (para quem provavelmente trabalhava). Ele também poderia estar apostando tudo na manutenção dos poderes locais contra a Coroa, em razão de que já havia contra ele, desde trinta de janeiro de 1717, uma ordem de d. João ao Bispo da Capitania do Rio de Janeiro que voltasse ao Reino, por causa de um precatório que se passou do Juízo Eleciástico (...). Essa carta precatória era fruto da requisitória eclesiástica obtida por Maria Caetana, sua esposa. Para que ela não tivesse ainda sido cumprida em 1720, Felipe deve ter contado com a interferência tanto de Pascoal da Silva, quanto com a ajuda do ex-ouvidor dr. Mosqueira.

 

PASCOAL DA SILVA GUIMARÃES

Segundo o historiador Alexandre Fonseca, Pascoal da Silva Guimarães “foi, junto com Manuel Nunes Viana, um dos primeiros mascates que chegaram nas Minas entre 1701 e 1705. Pascoal da Silva veio de Portugal para o Rio, onde se estabeleceu como caixeiro de Francisco Amaral Gurgel. Tornou-se em seguida mascate nas Minas, enriquecendo-se rapidamente. Os mascates eram vendedores ambulantes, que, em razão de sua grande mobilidade, eram considerados pelas autoridades da Capitania como contrabandistas em potencial. O contrabando era uma atividade comum na Colônia. O governo tinha conhecimento dele e tentava contê-lo, mas ao mesmo tempo tinha certa tolerância, pela dificuldade de combatê-lo.”

Pascoal da Silva Guimarães foi um dos principais líderes da Sedição de 1720 ocorrida em Vila Rica, que visava a deposição do Conde de Assumar e a formação de um novo governo nas Minas Gerais. Debelado o motim, Pascoal da Silva Guimarães foi preso, enviado para o Rio de Janeiro e, posteriormente, para Lisboa. Em Portugal, Pascoal moveu um processo contra o Conde de Assumar, mas faleceu antes que houvesse um veredicto final.

 

CONDE DE ASSUMAR

Dom Pedro Miguel Almeida Portugal, o Conde de Assumar, nasceu em 29 de setembro de 1688. Ainda rapaz foi para Catalunha e guerreou ao lado do pai contra Castela dos 16 aos 25 anos, Sempre dando mostras de qualidades de comando nos vários postos que galgou, até o de General da Batalha.

Assumar partiu para Minas em 1717, dois anos após casar-se com D. Maria José Nazaré de Lencastre, e chegou à capitania sem tropa militar regular, autônoma, e necessitando articular o apoio dos poderosos locais quanto à solução das demandas criadas a partir do rápido e singular processo de colonização de Minas. No período em que esteve em Minas queixou-se da distância, do clima, dos povos e da ausência da família. Em 1721, após enfrentar a Sedição de 1720, deixou a Capitania de Minas Gerais.

Ainda na década de 1720, Assumar envolveu-se num episódio em Lisboa que lhe custou, junto a outros nobres, o exílio, ação articulada pelo Marquês de Abrantes, todo-poderoso na Corte de D. João V. Entre 1721 e 1735, o conde caiu no ostracismo. Em 1733 ingressou na Academia Real de História e deu também um parecer ao Conselho Ultramarino acerca da possibilidade de se aplicar a capitação em Minas. Em 1735, após o rompimento de Portugal com a Espanha, Assumar foi feito mestre-de-campo-general da Cavalaria do Alentejo e, a seguir, diretor-general da Cavalaria do Reino, tornando-se, na mesma época, censor da Real Academia e Familiar do Santo Ofício. Em 1744 tornou-se vice-rei da Índia e Marquês de Castelo Novo; em 1748, Marquês de Alorna; e entre 1751 e 1752, retornou a Portugal, sendo promovido a mordomo-mor da rainha. Mas suas cartas a D. José e D. Mariana Vitória, que assumiram a Coroa a partir de 1751, indicam que ainda queixava-se do ostracismo que vivia na Corte, que sobre ele ainda pairava uma pública excomunhão. Em 9 de novembro de 1756, Assumar faleceu em Cascais.

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